Começando bem e terminando mal?
Um domingo, depois de dirigir o culto em sua igreja como fazia há anos, pastor Mario entrou em seu estúdio, fechou a porta, rasgou seu certificado de ordenação, jogou as chaves da igreja numa gaveta e se foi, para nunca mais voltar ao ministério.
O pastor João serviu à sua igreja fielmente por mais de trinta anos. No entanto, nos últimos anos ele simplesmente cumpria sua obrigação “profissional” de pastor, pregando os mesmos sermões de anos atrás, dando os mesmos conselhos enferrujados e contando os anos até sua aposentadoria.
O caso do pastor José é mais dramático. Um dos promissores talentos da denominação, criado numa pequena cidade do interior, ele tinha se formado com dificuldades no seminário. No ministério demonstrou grande potencial. Aos poucos sua igreja crescia e seu ministério prosperava. Foi uma surpresa quando seu deslize moral foi descoberto. Foi ainda maior a surpresa quando ele recusou o processo de disciplina da denominação e anunciou que iria se “auto-disciplinar”. Hoje ele trabalha de vendedor ambulante, completamente afastado de qualquer atividade ministerial sem sequer congregar-se.
Os nomes dos pastores acima são fictícios, mas eles representam o que acontece em igrejas e ministérios cristãos em todo o mundo. Robert Clinton cita em seu livro A Escalada de um Líder, que 70% dos ministros do evangelho desistem no meio do caminho e não completam sua carreira.
Este não é o plano de Deus para os homens e mulheres que Ele chamou para a nobre tarefa de comunicar a verdade eterna do Evangelho. A expectativa de Deus é de que como Paulo, cada homem ou mulher que tem um encontro pessoal com ele, envolva-se imediatamente na obra de proclamar as boas notícias reveladas neste encontro. Paulo começou bem sua carreira cristã. Deus também espera que possamos chegar ao fim de nossa vida dizendo como Paulo: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé” (2º Tm 4.7).
O que leva homens e mulheres de Deus, que conhecem as verdades da Palavra e provaram a Sua presença a abandonarem tudo e fazerem escolhas egoístas que destroem seu legado de fé? Basta perguntar a Salomão. Ele é o exemplo do líder que começou bem, mas terminou em desastre. Sua caminhada começou no poder de Deus, mas terminou na idolatria e corrupção. Depois da sua morte, o Reino se dividiu e Israel nunca mais foi o mesmo.
O que aconteceu com o homem mais sábio da Terra? Ele esqueceu o que ele mesmo havia escrito e tornou-se um néscio. O mesmo homem que escreveu “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Pv 9.10) foi o autor de “Vaidade de vaidades, tudo é vaidade” (Ec 1.2). O Sábio de Provérbios tornou-se o néscio de Eclesiastes.
O primeiro passo na queda de Salomão se deu no momento em que ele deixou de ouvir e aprender. Em algum ponto da glória e prosperidade ele chegou à conclusão de que já havia aprendido tudo. Um fato da vida é que no momento que deixamos de usar uma parte de nossos corpos, ela começa a definhar. No instante em que Salomão parou de aprender, sua sabedoria começou a encolher.
À medida em que a sabedoria ia murchando, o caráter do rei começou a definhar também. Logo, ele deixou de viver por suas convicções e se deixou influenciar pelas esposas com as quais ele havia casado por conta de acordos de política externa. Elas trouxeram ao palácio real não somente suas riquezas e cultura, mas também seus deuses e crenças, que logo começaram a infectar o caráter enfraquecido do rei. “Já não há lembrança das gerações passadas; nem das gerações futuras haverá lembrança entre os que virão depois delas” (Ec 1.11). Salomão agora perde de vista seu legado e contribuição ao projeto maior de Deus.
No final do período de ditadura militar no Brasil, um Presidente da República pediu à nação que o esquecesse. O Brasil atendeu a seu pedido. Quase ninguém se lembra dele nem de seu legado.
Salomão chegou a crer que seria esquecido e se esqueceu do legado que foi chamado a deixar para as gerações futuras. Ele investiu em pactos internacionais, num templo e num suntuoso palácio. Nenhuma destas obras resistiu ao tempo.
O processo de atrofia espiritual de Salomão culminou com a perda da relação de intimidade que uma vez ele gozara com Deus. No começo de seu reinado, Deus se manifestou ao rei diretamente em duas ocasiões. Ao chegar ao final de sua vida, seu coração se desviou de seu Deus.
A queda de Salomão foi um processo insidioso, como um câncer que não aparece até que seja demasiado tarde. Não precisamos acabar como Salomão ou como os pastores do início deste texto. Para isto precisamos estar alertas agora, enquanto “pensamos estar de pé” (1º Co 10.12), ouvindo, aprendendo e vivendo por nossas convicções e na força de um caráter moldado pelo Espírito Santo.
Nunca podemos esquecer de que nosso legado é eterno. Somos parte de um plano maior de Deus que durará para além de nossas existências. E finalmente, não podemos deixar que nada nos afaste de nossa relação de intimidade com Deus. Para isto, podemos aprender com Paulo, que terminou bem. Quando ele falou aos cristãos de Éfeso em sua última visita àquela igreja, afirmou: “Em nada tenho a minha vida como preciosa para mim, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da graça de Deus” At 20.24.
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